domingo, 19 de julho de 2009

sobre a mente de salie

o terceiro, da "série"

Sobre a mente de Salie

– Se estou feliz? Pois bem suponho ser isto felicidade; pensou. Era talvez a milésima vez que refletia sobre essa pergunta de Leaf. Não sabia o por quê, mas lhe soava tão pura como o amor.
Ótimo, era mesmo então amor que havia entre os dois. Em verdade ele já morria e se alcoolizava por ela. Salie não sabia se fugia ou se trancava todas as portas, mas certamente já participava muito da sua vida, o rapaz. Aos poucos ela reparava que não era felicidade.
Vê-se aí uma diferença: A Leaf o desalento veio como uma pedrada – já não aguentava olhar para tudo da vida e ver a alma de Salie. Ela presenciava uma dor constante, cinza e chuvosa, quase a anestesiando. Mas pouco importa-nos como houve, visto que era recíproca, numa maluquice, a dor.
– Feliz... Já o fui. Suponho agora não sê-lo mais. Melhor ser sincera comigo mesma. Estou é conformada com sua ausência, seu monstro! Salie berrava, uma pena que o rapaz não a ouvia; se ouvisse morreria por tristeza. Ou pelo ódio que adquiriu por si mesmo. Ou por ambos. Uma pena, pois deveria ouvi-la, não porque morreria, mas porque deveria sentir as chibatadas do pranto da pessoa amada na pele. Ou no coração. Ou em ambos.
E o raciocínio da senhorita continuava: Por que tinhas de ser tão belo? E tão estúpido? Ah, Lea, por quê? Minhas lágrimas pesam mais que o teu caráter!
Oh, quase me esqueci, bom leitor: houve um grande ontem quando o rapaz bebia no bar do pai da amada, com uma pequena esperança em vê-la. Mas a bebida foi tanta junto da espera, e o dinheiro tão pouco, que a noite acabou com o bar destruído e o pai espancado. Esse é o motivo de Salie não tocar no nome de Leaf sem embrulhos no estômago. O motivo d’eles acabarem o relacionamento dias antes foi outro, aconteceu numa manhã, mas foi como se não tivesse acontecido, visto a proporção do fato ocorrido no bar.
Ela pensava e pensava. Ele só se embriagara pois estava sem ela. E bebera ao ponto de atrocidades pela dor que sua ausência provocava. Ele a amava, loucamente. E destruía tudo a sua volta que cheirasse a Salie, que não suportava mais sentir a alma dela em tudo!
– Desculpá-lo? Seria impossível. Perdoá-lo? Quase inimaginável. Mas ela sabia o quanto doía ficarem separados. Mas ele era repugnante. Ou tornou-se repugnante, com uma habilidade impressionante para isso.
– Aliás, inimaginável é ficarmos separados! Monstro! Se soubesses do que há em minha em minha cabeça! Se eu mesma soubesse o que há em minha mente!
Bem, nem sei muito bem o que dizer sobre o que se passa na mente de Salie. Entendemos todos, o que acontece... O problema é decidir: viver com o homem que espancou uma vez seu pai, ou viver sem vida. Ou nem viver.
Suponho uma dificuldade tremenda em perdoar tal ato, se é que para ele há perdão. Talvez o leitor discorde, mas o amor tem uma estranha característica de manusear todo ego para que não exista. Aliás, o sonho da senhorita nesta noite foi muito curioso. Sonhou que casava com um vestido de noiva vermelho, num campo florido. As alianças em ouro, os nomes escritos dentro, fora detalhes em ouro branco, uma música tocada por violinos que se moviam sozinhos. Só que não havia sacerdote algum no altar, ou platéia alguma assistindo...
Só ela e Leaf. E também uma garotinha morena, bela como o sol que nasce, segurando a almofada das alianças.

Augusto Môro

preguiça

Preguiça

Viver nessa preguiça
que
preguiça
que talvez
tirará meu sono por pura
preguiça
de dormir.

Nesta manhã
o sol
nem nasceu por
preguiça
perdeu horas
apareceu só no almoço pra requentar quem dormia um pouco
por
preguiça
aquela que dá depois de comer.

Falta comida mas
de sobra
tem
preguiça
preguiça tem
de sobra
dinheiro falta também.

mas isso não é
nada.

Tem na gente
muita
preguiça
sabe de
resolver os problemas
da vida

mas isso não é
nada.

É
assim
açiugerp
ret ed açiugerp ret ed
açiugerpreguiça
de ter preguiça de ter
preguiça
Isso sim é problema pra toda uma vida!

Augusto Môro