segunda-feira, 3 de maio de 2010

curando queimaduras

Curando queimaduras

Talvez o mais frio vento os abateu, vinha cortante assim, ia soprar nos ossos, nos dois corações que ali se alegravam. Admito que os ossos possam ter se congelado todos, mas o que é certo, e ponham em mim fé, é que os corações nem se deram conta do frio, por tanto que radiam, por tanto que fervem quando estão perto! Parece que bombeiam o dobro do sangue, mas não se cansam como tal, que o fariam isso por dias e dias ininterruptamente se lhes fosse possível.
Houve que nem os ossos congelados os tirariam dali. Garanto que ambos congelariam suas vidas naquelas horas. Estavam a céu aberto, no começo da madrugada, debaixo de uma lua minguante ainda cheia. O que faziam? Bem, nem eu sei dizer, só sei que não se conversavam. Não sobre o que realmente importava e os trouxera até ali. O garoto comentava do frio, e das estrelas. Ela dizia que estava bem, mesmo diante a baixa temperatura, e falava sobre a beleza da lua ou das constelações. Eles então ouviam o canto de algum pássaro da noite. Era isso que saía das bocas.
Até que desistiram desse desnecessário diálogo, e só ali, em pé, ficaram. Logo deram uma das mãos. Minutos depois deram ambas. Algum tempo passado, se abraçaram, pois realmente lhes era fria, a madrugada. E a cada ventar, mais apertado e caloroso era o abraço! Era algo bonito de se ver. Se aceitam minha opinião, um casal belíssimo formam. Em verdade só a senhorita já faz o “belíssimo” por si só. Mas eu não a quero elogiar, pois ainda hoje gostaria de botar um ponto final a este texto.
Abraçados ao relento então, estiveram, por horas. Li em algum livro ou artigo que quando se está bem ao lado de alguém e o silêncio não é algo constrangedor, está sendo agradável para ambos. Também li, só que em outro livro, que são nesses silêncios não-constrangedores que os corações falam. Não sei dizer até que ponto acredito nisso. Mas sei que aqueles dois corações muito tinham o que dizer um ao outro. Quase as era possível ouvir, as palavras, se desprendendo e se jogando para serem compreendidas. O garoto, após muito ouvir daquele silêncio, beijou levemente a testa da senhorita. Ela esboçou confusa um sorriso confuso.
Talvez uma hora após silêncio ou comentários aleatórios – que tinham por função principal desviar os olhares que se fixavam, com muita facilidade, hora nos olhos, hora nos lábios – o garoto a deu um beijo na bochecha. Nunca antes ele havia dado um beijo num rosto com tanto carinho. Outra vez confusa e sorriso confuso.
Passaram ainda mais tempo resistindo, lutando bravamente contra algo que não queriam lutar. Relutaram, repensaram, e ousaram naquela perfeita ocasião tentarem não se beijar. Um absurdo! Completos eram, quando juntos; se amavam, por mais que dissessem o contrário; não ousariam – em verdade, nem agüentariam – dormir uma noite sequer se aqueles lábios não se encontrassem.
Desfez-se boa parte da confusão da cabeça da senhorita que logo se beijaram, é claro. Com muito ímpeto, um que esteve contido e foi liberado duma vez, mas sem perderem o romantismo, o carinho e a pureza. Por quanto tempo me falhou o cronômetro, só lhes afirmo que na cabecinha dos dois passavam segundos como horas, e horas como milésimos de segundo. Eles emanavam satisfação.
Talvez agora tu penses, leitor: “Que diabos me interessa essa historinha?”. Eu serei, logo, obrigado a dizê-lo: “Gostaria que visse que não importa, quando é verdadeiro o sentimento, não se pode fugir dele: Se fechares os olhos, ele cantará. Se fechares os ouvidos e os olhos, cheirará à baunilha. Se não sentires mais cheiro, nem veres, nem ouvires, ele te queimará a pele de uma forma que todos os sentidos voltarão a funcionar ao mesmo tempo.”
E é quando todos eles voltarem a funcionar novamente, e funcionem por uma só alma, que terás certeza de que estás amando. A felicidade que isso traz arrancaria perfume de uma camélia**. Acredite.

**: pode parecer idiotice o que está escrito, pois arrancar perfume de uma flor é algo simples; no entanto a camélia é dita ser a flor sem perfume. Sendo assim, me parece algo quase impossível obter perfume de camélias – quase pois algumas espécies de camélia têm um pequeno perfume, bastante suave. Enfim, é isso.


Augusto Môro

4 comentários:

  1. morri *O* que lindo meu lindo! *-* te amo!

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  2. "Mas eu não a quero elogiar, pois ainda hoje gostaria de botar um ponto final a este texto."
    arrepiei e estremeci em cada palavra dessa frase! texto magnifico, como sempre! tanta inspiração.. viva o amor! lindos

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  3. ow, se pah eu nunca te falei isso
    mas você escreve bem, cara. :~

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  4. Eu foi fácil sentir o cheiro de baunilha, realmente, combina com o momento!

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