sábado, 9 de abril de 2011

Acorde, se for capaz!

Acorde, se for capaz!

Sonhar é ótimo, não concordam? Sonhamos, todos, muito.
Não entendam mal o sentido de sonhar a que me refiro. Não é aquilo que você faz toda noite, quando dorme, e hora lembra, hora não. Digo sonhar acordado, iludir certas coisas; não de uma forma ruim, mas criar uma empolgação diante certa situação ou momento, ou pessoa, ou novo trabalho, ou qualquer outra coisa.
Quero me deter, no entanto, num ponto levemente diferente: quando se está vivendo um sonho.
É aí que vocês me dirão: “mas se você o está vivendo, não é mais um sonho!” e sim, vocês estão certos. Não inteiramente, mas certos.
Quando se vive um sonho, o tempo passa de uma forma diferente; o que aconteceu há um dia, parece que aconteceu há anos, e também o oposto, já que acontecimentos do ontem podem ser esquecidos como se tivessem ocorrido no começo dos tempos. Engraçado – e o mais delicioso – a vida vira uma miscelânea de realidade com extraordinário. Então ainda é um sonho, por mais que real. Ou é a realidade, turvada pelo fantástico.
“Que diabos?” vocês devem ter pensado. Explicar-me-ei: A vida parecerá ser boa demais pra ser verdade. E não o digo no sentido metafórico; acontece que você pára, pensa, reflete, e não consegue acreditar que está vivendo. Mas ainda existem as sensações, os gostos, os cheiros, os cansaços, as dores. Inteiramente, não há como ter exata consciência de se estar acordado ou dormindo, sonhando as perfeições que só nosso próprio subconsciente consegue gerar.
Não se enganem achando que eu não estou falando sobre amor, pois sim, estou. Sonhar com o trabalho, com alguma realização familiar, bem, qualquer outra coisa exceto o amor é possível. Mas nada, exceto amor e paixão, consegue fazer uma pessoa sonhar tão alto, sentir o tal fogo que arde sem se ver, feridas que doem de verdade e se sente sim, muito, aliás, e ainda se gosta de senti-las.
Talvez me achem clichê, por pensar isso do amor. Amigos, suas desilusões não passam de pó perto do momento em que vocês se sentirem inteiramente completos ao lado de uma pessoa. Provavelmente é nesse momento que vocês lavarão o rosto na esperança de acordar. Ou melhor, na esperança de não acordar.
As horas da noite ou do dia em que você encontrar-se completo vão passar voando, e cada segundo durará um dia; cada beijo vai acender todas as chamas possíveis, por mais que elas sejam mais puras que deveriam ser. Claro, os atos mais puros podem gerar desejos inexplicáveis. Nas pontas dos dedos ficarão as marcas de cada toque; poder-se-á relembrá-los a qualquer momento que desejar. Cada sorriso virará um riso, e cada riso se tornará uma gargalhada, até que os dois pararão, um pouco envergonhados, por estarem tão felizes só pela presença de um ao lado do outro. Os abraços serão constantes, um rápido toque dos lábios no pescoço gera um curto-circuito em todo o corpo, os perfumes serão deliciosos, o cheiro de suor misturado, o cheiro dos cremes, das sobremesas, dos cigarros, das bebidas, os gostos, tudo isso gerará um cheiro só de vocês. Aquele que você vai sentir logo ao acordar e se revirar na cama, esfregando o rosto no travesseiro. E isso não é tudo.
Tudo no seu coração, tudo na sua mente será a outra pessoa. Não será uma paranóia, não, certamente que não. É diferente, difícil de explicar, e incontrolável, fácil de sentir. Será automático recorrer a sua ‘outra-parte’ pra pedir forças, pra contar como foi seu dia, pra ligar num momento de desespero, ou num de felicidade, ou pra qualquer momento em que for necessário – e sim, todos serão. Ter a outra-parte ao seu lado, mesmo que seja parcialmente, será sua maior ambição.
Sentir-se completo, essa é a parte mais fantástica e ao mesmo tempo mais real, mais difícil e simplesmente elementar. Se eu fui infantil demais, ignorem o apaixonado. No entanto, se eu acertei, será fácil lembrar. E não se dêem ao trabalho de me dar razão, que razão é o mais fácil de perder quando se ama.

Augusto Môro

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