segunda-feira, 30 de março de 2009

e deveria ter acordado?

E deveria ter acordado?

Acordou-se a menina às três e vinte três da madrugada; perdera o sono, e essa insônia já existia há algumas semanas. Porém nem incomodava tanto. Ou talvez incomodasse. E mais: naquela casa enorme, quem se incomodaria?
Levantou; foi até a cozinha como de costume, e tomou um copo d’água. Sentou-se à mesa das refeições e encostou o queixo sobre os braços cruzados, em cima do vidro gelado. Desejou estar dormindo e fechou os olhos. Abriu-os, e quase jogou sua alma pra fora da cadeira ao reparar que... Ela mesma vinha e tomava o costumeiro copo d’água!
A “outra ela” encarou a situação com mais sossego: olhou-a com certa sonolência, depois se sentou ao seu lado, depositando o copo sobre a mesa; deitando a cabeça por cima do braço direito, este, jogado sobre o vidro. Olharam-se, até que a “outra” quebrou o gelo:

- Sabe que sou você amanhã? Já estarei acostumada a encontrar-me, como hoje, por isso nem me assusto.
- Então quer dizer que ficarei mais uma noite sem dormir?
- Elementar...
- Começo a me casar dessa insônia!
- Sei, sei... Por que não dorme?
- Você fala como se fosse fácil.
- E você como se fosse difícil.

Reparou que era muito estúpido brigar consigo mesma por dois dias seguidos – Se é que isso é possível, amigo leitor – por fim, perguntou a si mesma:

- Vamos assistir a um pouco de televisão?
- Tem certeza? Respondeu a “outra”. Pelo que me lembro não há nada de bom na TV. Assisti ontem, sabe?
- Vamos! Assista de novo! Você quem “veio” para o “passado”, eu ainda estou no presente!

Enfim, caminharam em silêncio pela mansão até chegarem ao televisor da sala, e acomodarem-se nos sofás.

- O filme do canal dois é horrível, e no canal três são só propagandas, resmungou a “outra”.
- Poxa! Você quer parar com isso? Tem mais alguma coisa do meu dia que você queira me contar?
- É verdade! Cuidado ao sair...
- Pare! Interrompeu a garota. Eu estava sendo irônica!
- Ah... Desculpe-me.

Foi birrenta o bastante para deixar no filme do canal dois. Mas este era tão chato, tão chato, que a menina acabou por adormecer. Acordou quando faltavam uns vinte minutos para o sinal de entrada da escola.
Tomou banho e trocou-se o mais rápido possível, e correu para a mesa, para o café da manhã. Sentou-se à mesa, havia salada de frutas para o desjejum. Encontrou novamente consigo mesma.

- Cuidado com a hora...
- Tenho tudo calculado! Tenho ainda... Nossa! Cinco minutos?

Voou porta afora, esbaforida, escorregou numa casca de banana, proveniente dos restos do preparo do café da manhã.
Escorregou, e tomou o maior tombo da sua vida. Caiu tanto, que faltou à aula por uns dias. E continuaria a ter insônias. Mas não a encontrar-se. Havia desistido de si mesma, por uns dias.
Tem épocas que nem você poderia se salvar de si mesmo.

Um comentário:

  1. Puta que pariu fera!
    se escreve muito!
    como eu disse eu nao sei avaliar qual eh melhor ou nao,
    mas esse aqui ta muuiiiito bom!

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